(*) Por Marcelo França
As operações de fusões e aquisições, ou no inglês Mergers and Acquisitions (M&A), vêm cada vez mais ganhando destaque no mundo dos negócios. Mesmo em queda no primeiro semestre, elas devem crescer. Segundo um estudo da PwC Brasil, o crescimento deve ser de 15% até o fim do ano. Um dos sinais de melhora é que o volume financeiro aumentou: 4,8% a mais em relação ao ano passado. Foram movimentados R$ 116 bilhões com M&A no Brasil até agora.
O relatório da Transactional Track Record Brazil (TTR Brazil) apontou queda no número de operações nos primeiros seis meses deste ano: foram 6,6% a menos em relação ao mesmo período do ano passado. Porém, essa queda é circunstancial e não uma tendência. As operações de M&A são longas e demoram meses para se concretizarem, ou seja, as operações concluídas na primeira metade do ano são resultado de negociações iniciadas em 2018 ou antes, quando ainda tínhamos um outro governo. Consequentemente, as operações que iniciarem agora deverão ser concretizadas no final de 2019 e início de 2020. São meses de negociações, propostas e contrapropostas, por isso, as operações de M&A exigem atenção, tempo e, principalmente, paciência.
Seja para vender, fundir ou comprar, cada empresa precisa avaliar o cenário econômico mais apropriado para a operação. Por isso, é fundamental o trabalho de uma assessoria financeira para que o levantamento correto desses panoramas e perspectivas da economia. A assessoria também é essencial na questão da confidencialidade. Todo o processo de M&A tem de ser sigiloso, pois uma simples informação que seja vazada pode comprometer o negócio. Um caso recente ocorreu no ano passado, quando a Sapore queria fundir com a International Meal Company Alimentação, dona da rede Frango Assado. Algumas informações foram vazadas durante as negociações e a fusão não aconteceu. A decisão veio por parte da International Meal. Outro caso registrado nesse começo de segundo semestre foi a desistência da fusão entre a BRF e a Marfrig. Eles alegaram que a negociação não deu certo porque as administrações não chegaram a um consenso sobre a governança da sociedade, mas o fato é que a negociação foi anunciada em meados de maio, muito antes de realmente fecharem negócio. Esses dois casos evidenciam o cumprimento da profecia: quando todo mundo sabe que a M&A vai acontecer, ela não acontece.
O estudo da PwC também revelou que 74% das aquisições e compras de empresas no Brasil são feitas por companhias nacionais. Isso pode demonstrar que o investidor internacional está apreensivo e cauteloso. Todavia, é um bom sinal, pois demonstra que as empresas daqui estão de olho em novas oportunidades. Alguns casos recentes e bem-sucedidos de empresas brasileiras comprando estrangeiras são as aquisições da Avon pela Natura e da Netshoes pela Magazine Luiza. Neste ano, também tivemos aquisições importantes de empresas brasileiras comprando outras brasileiras, como, por exemplo, a Suzano Papel e Celulose que comprou a Fibria, a Itaúsa que comprou a Alpargatas e o Itaú que comprou a XP Investimentos.
Quanto aos setores que merecem destaque ao longo dos próximos anos estão o de tecnologia, saúde, energia e educação. O segmento de tecnologia da informação (TI), em especial, começou este ano com alta de 11%.
O fato é que o mercado de fusões e aquisições está aquecido. O que muita gente não sabe é que estas não são operações exclusivas de grandes empresas. Muitas vezes, a união ou a compra de uma micro, pequena ou média empresa funciona para alavancar os negócios. Já pensou nisso?
(*) Marcelo França é economista, pós-graduado em Administração e sócio da Melius Consulting. Possui mais de 30 anos de atividade profissional desenvolvidos em segmentos de negócio como varejo, serviços e indústria de alimentos, atuando por 15 anos como CFO de empresas investidas de fundo private equity.